quarta-feira, 2 de março de 2011

MORNING SUN (Edward Hopper)

A imagem a qual escolhi se chama Morning Sun (Manhã de sol) de Edward Hopper e optei por ela pelo fato do dilema retratado em todas as suas obras: a solidão. Hopper, ícone da pintura americana da primeira metade do século XX, fez quadros abertos a leituras distintas, às vezes até opostas. Ele já foi considerado subjetivo e objetivo, realista e modernista, formalista solitário e individualista nostálgico. Mas nunca escapou a crítica da tremenda densidade psicólogica de seus quadros.A melhor parte de Morning Sun e todos os outros quadros está justamente na vastidão psicológica. Há uma verdade suspensa, atemporal, como que congelada por um elemento que permeia delicadamente toda a sua obra: a impossibilidade da comunicação humana, a certeza de que somos essencialmente solitários. Hopper pintou a melancolia da existência. O que chama a atenção nesse grande artista é a perseverança com que manteve seu estilo e sua temática durante toda a carreira. Sempre retratou cenas da vida real, sempre lhes deu dimensão psicológica e nunca se encantou com abstracionismo. Manteve a constância mesmo tendo vividos acontecimentos traumáticos, como as duas guerras mundiais e a depressão dos anos 30. Hopper gostava de exaltar uma citação de Ralph Waldo Emerson dizendo ser uma definição elegante da solidão : "O grande homem é aquele que, no meio da multidão, mantém com perfeita doçura a independência da solidão". Talvez Hopper tenha pintado uma confusão entre melancolia e tristeza, mas não o sofrimento, não é desesperador. A solidão de Hopper é reparadora, sólida, quase aconchegante e necessária. Um elemento definidor deste artista é seu manejo estupendo da luz. É tão pesada, tão quente, tão sólida que parece quase mágica. Daí talvez venha a sua genialidade: sob a irreverência desse clarão intenso, a solidão que Hopper retrata ganha na tela uma dimensão de conforto, de esperança. Ele levanta o grande questionamento da existência, somos totalmente e essencialmente solitários por natureza. E como diria Goethe, "O começo e o fim de toda a atividade literária é a reprodução do mundo que está dentro de mim".


Brenda S. Machado e Lima

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